domingo, 9 de outubro de 2011

A busca pelo corpo perfeito


Todos os dias, a mídia oferece uma legião de pessoas sorridentes, bonitas e bem humoradas que exibem beleza, poder, inteligência, dinheiro, etc.
São sujeitos do mundo que viajam, valorizam seus dotes, cultivam seu corpo, enaltecem seus feitos e divulgam fórmulas de sucesso. Convidam à admiração, suscitam inveja, capitalizam uma marca, alimentam especulações em torno de uma vida bela e perfeita, Parecem felizes ao exibir uma satisfação aparentemente sem fim.
Para alguns, trata-se de vaidade, outros auto estima elevada ou ainda,simplesmente, a sensação de "estar de bem com a vida". É muito bom sentir-se bem com o corpo, com a vida social e profissional, sonhar e fazer projetos, ter sucesso e realizações.
Mas chama a atenção o excesso e a insistência por uma felicidade plastificada, impermeável às intempéries da vida!


Mais que a própria satisfação, essas pessoas solicitam permanentemente o reconhecimento e a admiração do outro. Porém, mesmo quando a recebem, a admiração esperada logo se revela insuficiente, e tenta encontrar um lugar satisfatório no mundo das relações sociais. Ocorre uma luta incessante para existir e ser idolatrado pelo outro.

As características físicas, a inteligência, as habilidades, o poder e o dinheiro são apenas alguns dos meios através dos quais o homem busca ser reconhecido por seu semelhante. O corpo e suas experiências ocupam um lugar especial como referência ansiogênica nas relações com o mundo e consigo mesmo.

O corpo é o primeiro universo. Ele concebe, abriga e registra as primeiras impressões que se tem do mundo: cheiros, sabores, luzes, sons, calor, frio, etc. São estados e movimentos do corpo que estabelecem as primeiras formas de comunicação, muito antes do pensamento e da linguagem. Nele se constrói uma história marcada por sensações, movimentos, percepções e traços do encontro com um mundo desconhecido. O corpo, ainda é, o último reduto do qual se recolhe momentos de dificuldade, tristeza e desamparo.
Insatisfeitos com a degradação da qualidade de vida, com a crescente violência, inseguros quanto à situação econômica, solitários e empobrecidos por relações pessoais e sociais esvaziadas, as pessoas tornam-se incapazes de considerar a importância dos valores afetivos.

Uma pesquisa realizada recentemente no Brasil revela que somos o segundo país do mundo em número de cirurgias plásticas: 400 mil em 2008, metade delas estéticas (40% lipoaspiração, 30% mamas e 20% face), a maioria realizadas entre os 20 e 34 anos. Dos 12.477entrevistados pelo Instituto InterScience, 90% das mulheres e 65% dos homens afirmam sonhar com mudanças no próprio corpo; 5% já tinham feito alguma plástica, e 90% pretendiam fazer outra. Entre os que nunca fizeram uma cirurgia plástica, 30% declararam que esperavam criar coragem para realizá-la”.
Folha de São Paulo

Dos simples tratamentos de cosméticos às cirurgias mais radicais, é vasto os recursos utilizados para ficar de bem com o próprio corpo. Adereços, roupas, maquiagens, tatuagens, piercings, atividades esportivas, musculação e cirurgias plásticas buscam dar conta de um mal estar que, mesmo referido ao corpo, geralmente tem pouco a ver com ele. Tentativas muitas vezes frustrantes de aplacar inquietações, angústias e experiências mais profundas de vazio que apenas no corpo encontram um porta voz de mensagens incompreensíveis, de pedidos de socorro que não conseguem se fazer ouvir de outra forma.
Diante da dificuldade de encontrar em si mesmo uma imagem que satisfaça, busca no olhar do outro e no social a melhor imagem que possa agradar. Cada vez mais, homens e mulheres procuram os tratamentos estéticos e a cirurgia plástica. Também adolescentes e até crianças vêm se preocupando com as formas e as condições de seu corpo, querendo adequá-lo a padrões estéticos e culturais, apesar de ainda estarem em transformação.

Nesse ponto, é importante lembrar a distinção entre os procedimentos estéticos e reparadores nos progressos da medicina estética, da reabilitação e da cirurgia plástica o quanto propiciam para milhões de pessoas recuperações significativas de sequelas por acidentes, guerras e más formações congênitas, etc. Porém, em muitos casos, a dificuldade em compreender a natureza do "sofrimento emocional" que acompanha o desejo de uma plástica mascara a insatisfação e o desprezo pelo corpo herdado através da vida.

Um comentário:

  1. Parabéns! Muito bom, esclarecedor e deixa-nos espaço para pensar: até onde pode chegar essa sociedade de aparências? Até quando nos mutilaremos sem saber muito bem por que?

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