As grandes transformações ocorridas na
sociedade nas últimas décadas culminaram em diversas mudanças, desde a entrada
da mulher no mercado de trabalho até sua participação mais efetiva em
praticamente todos os segmentos sociais. Neste novo contexto a mulher, muitas
vezes, precisa enfrentar uma dupla ou mesmo tripla jornada de trabalho, que pode
ser facilitada quando a mulher passa a conduzir um veículo na realização de
suas atividades, seja por um desejo pessoal ou por necessidade.
De acordo com a Associação Brasileira
de Medicina de Trânsito (Abramet), dois milhões de brasileiros não conduzem por
medo. Destes, 75% são mulheres com idades entre 30 e 50 anos, sendo que somente
uma minoria delas desenvolveu o medo de dirigir após um evento traumático no
trânsito.
Atualmente, há pouco material publicado
sobre o medo de dirigir. Quem sofre com essa dificuldade tem pouca informação,
se limita a buscar ajuda emocional e/ou convive com a sensação de estar sozinha
frente ao dilema. Esta conflitiva tende a desenvolver baixa auto-estima, reforça
sua insegurança e aumenta a percepção de crítica por uma sociedade que ensina e
cobra tudo.
A
origem do medo de dirigir pode estar atrelada a motivos particulares, e se
manifesta em diversos níveis e/ou intensidade, que dependerão das influências
sociais, do contexto histórico-cultural e do ambiente familiar.
Quando
o medo de dirigir se manifesta de forma irracional, sem motivo aparente, e tem
relação com uma visão bastante distorcida do objeto, pode ser caracterizado
como uma fobia específica, denominada de Amaxofobia
- surge quando o trânsito passa a ser percebido como uma ameaça irracional, gerando
níveis de ansiedade e estresse significativos, que interferem no cotidiano.
Aspectos culturais igualmente podem implicar
no fato de mulheres desenvolverem o medo de dirigir. Quando relacionam o
aprendizado na infância com padrões de educação diferenciados entre os gêneros,
isso tende a reforçar os papéis estereotipados de homens e mulheres na
sociedade. O menino desde cedo é estimulado a brincar com vários carrinhos,
e percebe que o ato de dirigir é algo natural, enquanto a menina se depara com a
oferta de várias bonecas: poucos pais presenteiam e/ou estimulam suas filhas a
brincarem com carrinhos. Inconscientemente, ela poderá rejeitar do ato de dirigir.
Soma-se a isso o preconceito historicamente elaborado por uma educação
repressora direcionada a muitas mulheres. Elas também trazem consigo as intransigências
vivenciadas da infância até a vida adulta, e por vezes estendem a sua realidade
ao trânsito, passando a preocuparem-se com a avaliação do outro sobre si, que
pode ali estar representada pelo seu histórico familiar.
Para refletir!
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