terça-feira, 8 de março de 2016

Pesquisa relaciona violência doméstica a câncer de mama




Das mulheres entrevistadas, 42% descobriram doença após o trauma.
Segundo pesquisadora, o estresse afeta sistema imunológico.

Não importa se física ou psicológica, a violência doméstica pode contribuir para o surgimento ou agravamento do câncer de mama. Essa é a conclusão de um estudo inédito feito pela oncologista Cristiana Tavares, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife.

Os dados estão na dissertação de mestrado em Perícias Forenses, defendido no ano passado na Universidade de Pernambuco (UPE). Das 200 mulheres entrevistadas, 84 descobriram a doença após serem agredidas pelos maridos ou namorados. Isso representa 42% dos casos analisados.

Para a médica, uma das explicações é o estresse crônico que elas sofrem e que afeta o sistema imunológico. “Alguns estudos mostram que, quando você passa por um trauma mais profundo, uma depressão, por exemplo, esses estresses podem diminuir as defesas do organismo. Assim, o corpo não se defende das células cancerígenas como deveria”.

A pesquisadora lembra que as mulheres submetidas à violência doméstica têm uma autoestima baixa e, por isso, não procuram se cuidar. “Na maioria das vezes, a equipe que presta assistência a elas não está preparada para tratar dos traumas da violência. Assim, são mulheres duplamente vitimadas. Isso que é importante: abrir o debate dentro da ciência para identificar melhor essa mulher na prática clínica. Não adianta a gente dar a melhor quimioterapia e a mulher sofrer violência em casa, porque ela vai estar estressada, não vai ter condições de lutar pela vida”, afirma.

E a violência não acaba quando vem o diagnóstico. Das mulheres que tiveram câncer de mama, 32% continuaram a ser agredidas durante o tratamento. E 59% relataram ter sido abandonadas ou negligenciadas após descobrir que tinham o câncer. “Nem sempre elas se separam. Muitas vezes, os maridos arranjam outra família e não dão nenhuma assistência”, explica a oncologista.

Para ela, essa conduta é fruto do machismo ainda presente na sociedade. “Graças a Deus, isso vem mudando, mas ainda há muitas exceções. O homem não aprendeu a ser cuidador. Ele aprendeu a ser cuidado pela mãe. A gente vem de uma sociedade em que os homens nasceram para mandar e as mulheres para obedecer”, aponta.

Ao identificar essa indiferença por parte de quem mais cuidar dessas mulheres, Cristiana Tavares defende que haja um trabalho mais efetivo voltado para os homens. “Eles não querem uma mulher que tirou a mama, querem uma mulher mais nova, que possa sair com eles no fim de semana. Isso é uma coisa que deve ser trabalhada. A gente precisa falar com os maridos e mostrar que eles precisam conviver com essas mulheres, muitas vezes eles nem sabem que abandono é uma violência”, acredita.

Câncer
O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) estima que, até o fim de 2017, surjam 600 mil casos da doença no Brasil. Segundo a estimativa do órgão federal, o câncer de mama será o mais comum entre as mulheres, correspondendo a 28,1% dos casos. Em 2015, 57.120 mulheres receberam o diagnóstico no país.

Violência
De acordo com a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS), de janeiro a dezembro de 2015, foram registrados 48.597 casos de agressão a mulheres no Estado. Só em janeiro de 2016, houve 4.450 ocorrências, um aumento de 10% em comparação com o mesmo mês do ano passado, quando foram feitos 4.022 registros.

Fonte: Globo.com



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