Carência é esse sentimento incômodo que muitas pessoas carregam, percebida por elas como um tipo de buraco, uma fome constante que chega a doer. Às vezes é fome de afeto, de amor e também pode aparecer como fome de atenção, como o desejo de estar sempre no palco das relações, sendo valorizado, cuidado, tratado de forma especial.
É uma exigência, muitas vezes inconsciente, uma
expectativa de que os outros supram você de alguma maneira, desejo esse que
tende a se impor à sua capacidade de perceber o outro como um ser individual
que tem direito a escolhas e limites.
Uma pessoa carente sempre exige, mesmo que de
forma disfarçada, que o outro lhe dê o que quer. Não compreende que o outro tem
o direito de dizer não. O outro tem o direito de não querer lhe dar algo. O
outro tem o direito de não gostar de você!
Quando alguém carente se aproxima das pessoas,
essa aproximação quase nunca é descompromissada ou relaxada. Existe sempre
certa tensão. Por um lado os carentes “polvos” querem agir sempre
adequadamente, para garantir que serão aceitos. Sua liberdade de ser
simplesmente quem é, está limitada pela necessidade de saciar a suposta fome.
Por outro lado, aproximam-se na expectativa de receber e raramente para dar algo ao outro.
Contudo por uma ironia do destino, por mais que tente
disfarçar suas intenções, o outro acaba pressentindo os tentáculos e na maior
parte das vezes se afasta de você. Isso faz com que a pessoa carente se sinta
rejeitada, o alimento lhe foi negado, a fome aumenta e ela tenta com ainda mais
intensidade, numa bola de neve sem fim.
Quando vamos com sede demais ao pote acabamos
derrubando-o, e lá se vai nossa chance de beber seu conteúdo. As pessoas se
afastam quando percebe alguém se aproximar na expectativa de ser suprido, como
um náufrago desesperado em busca de algo a se agarrar. E a pessoa fica lá,
sozinha no meio do oceano e acaba afastando cada vez mais a possibilidade de
receber o que realmente deseja.
Uma pessoa carente não faz isso por que queira ser
má, ou lesar o outro. Na verdade ela age baseada na falsa crença de que não
consegue suprir a si mesma. Talvez venha de um lar onde não tenha se sentido
amada, ou querida. Talvez tenha até recebido amor, mas por algum motivo não
tenha conseguido sentir que isso tenha acontecido.
Por trás dessa atitude carente, existe uma dor e
uma ilusão. A dor de uma criança ferida. A ilusão de que não se é nada mais do
que essa criança.
É necessário entender que hoje você não é mais
uma criança que precisa de alguém para lhe cuidar. Aceite a ideia de que hoje
você é grande o suficiente para cuidar de si mesmo!
Se a pessoa carente conseguir perceber que, não
importa o que lhe tenha acontecido, isso é passado. E que hoje existe dentro
dela uma força capaz de curar qualquer ferida. Se conseguir se identificar com
seu lado adulto, parando de esperar que a cura venha de fora, ou das outras
pessoas, esse é o caminho para a transformação.
Se em vez de estender seus tentáculos na direção
das pessoas, usar todos aqueles braços para abraçar, proteger e acariciar a si
mesmo, algo mágico começará a acontecer. O “polvo” vai aos poucos se
transformando em uma espécie de ninho, seguro e quentinho, e nesse ninho você
conseguirá se lembrar de sua verdadeira essência, e de lá sairá assumindo sua
verdadeira forma, como uma bela ave, e seu canto será tão pleno que todas as
pessoas sentirão o desejo de se aproximar e acariciar suas suaves plumas.
De mãos dadas com o adulto que existe em você,
sua fome será saciada por você mesmo. E a sua relação com as pessoas se
transformará. Deixará de ser uma busca de alguém que supra suas necessidades
infantis e passará a refletir o prazer e a alegria de uma troca genuína e
adulta com outro ser humano. E com certeza, essa mudança fará com que as
pessoas parem de se afastar de você e passem a querer estar ao seu lado.
Fonte: UOL
Comportamento
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