"É crescente e intensa a circulação de
imagens violentas nos produtos midiáticos, não somente nas telenovelas",
explica a professora da Universidade Braz Cubas e especialista em comunicação
de massas, Mariane Murakami.
As agressões nesta reta final, apesar de
concentradas contra a personagem que o público mais repudia, não são
exclusividade de Carminha. Jorginho (Cauã Reymond), Max (Marcello Novaes),
Tufão (Murilo Benício), Nina (Débora Falabella) e Lucinda (Vera Holtz) também
são alguns dos submetidos à violência física e psicológica.
O problema, no entanto, está na grande
incoerência que é viver o tempo de desconstruir preconceitos, lutando pelo fim
da violência, principalmente, daquela contra a mulher, oferecendo ao público,
paralelamente, mensagem de tamanha agressividade.
"O caso não se encaixa em um tipo de
representação socioeducativa da violência”, diz Mariane. "O intuito não é
promover conscientização ou denunciar, como já aconteceu em outras telenovelas.
Para ela, os tabefes contra Carminha do amante, do marido, do filho, da
cunhada, da rival, fazem parte da própria narrativa do melodrama, que tem uma
função de "discurso moral".
"É por isso que, com a chegada do fim da telenovela,
as agressões contra a vilã tornam-se mais frequentes: o bem precisa vencer o
mal, e o meio encontrado é o da punição privada", segundo Mariane. Em
nossa sociedade, porém, a punição privada, também chamada ‘fazer justiça com as
próprias mãos’, é proibida:
"A forma de conduzir a novela está
reforçando péssimos aspectos do comportamento humano: o desejo de vingança ou a
educação punitiva", diz Marilda Castelar, psicóloga representante do
Conselho Federal de Psicologia no Conselho Nacional da Mulher.
"Já são seis anos de vigor da lei Maria da
Penha, que envolveu o trabalho contínuo e árduo de tantos profissionais e
cidadãos, além de um sem-número de campanhas contra a agressão à mulher,
audiências públicas e estudos em todos os estados do país. A telenovela
brasileira poderia se comprometer um pouco mais com as necessidades da
sociedade", diz a psicóloga.
A ONU Mulheres, agência internacional que
trabalha pela igualdade de gênero e de direitos desde 2010, defende que a vida
feminina livre de qualquer tipo de violência depende muito de que todas as
pessoas sejam educadas a agir e pensar para este fim.
"Condenamos qualquer forma de violência
contra a mulher", afirma Rebecca Tavares, representante e diretora
regional da ONU Mulheres Brasil e Cone Sul. "Essa é a forma mais visível e
perversa de desigualdade de gênero, decorre da discriminação persistente e
contínua e é uma grave violação aos direitos humanos fundamentais."
Dados da ONU mostram que uma em cada cinco
mulheres (20%) já foi vitima de violência de gênero no Brasil. De 1997 a 2007, mais de 41 mil
mulheres foram assassinadas.
A queda de braço, para esses ativistas dos
direitos humanos, é dura. Enquanto lutam contra os maus costumes e as
desigualdades sociais, o interesse das emissoras por picos de audiência pode
comprometer o resultado de seu trabalho. Grande parte das campanhas pelo fim da
violência contra a mulher é patrocinada com dinheiro público.
Com tanto barulho, Carminha ainda teve sucesso:
bonita, poderosa, rica e vestida de grifes e joias caras. Com interpretação
elogiada de Adriana Esteves, foi alvo de ódio e de admiração de muitas pessoas
a acompanharam, nos últimos meses. Resta esperar que o telespectador não tenha
confundido a ficção com a realidade.
Fonte: Bol Comportamento
Perguntas
que não calam:
- Por que a
violência e a vingança dão esta espantosa audiência?
- Será que
o ódio é mais forte que o amor? Ou ele pauta as relações?
- Será que este personagem representa um pouco da ira de cada um de nós?
- As
pessoas necessitam presenciar conflitos emocionais e vibrar com o sofrimento?
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