O amor, tão nobre, tão
denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que
vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma
terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração,
sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o
amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se
encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um
pouco de dor pra cada canto.
Dói em quem tomou a
iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre
traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se
acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é
uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio,
ainda que com menos gravidade.
E ter o amor rejeitado,
nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase
desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos essa violência
vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e
o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se
desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro
do carro.
Passa a dor do amor, vem
a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada
de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar.
Medo, respondemos.
Que corajosos somos nós,
que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o
amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é
impossível recusá-lo.
Marta Medeiros
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